Arminda Vaz



Arminda Vaz entrou no mundo dos cabelos por mero acaso, mas desde cedo que se rendeu ao ambiente e aos profissionais relacionados com o mercado. Conheça a sócia-gerente da Leocris, a empresa que representa as extensões da Great Lengths em Portugal, que dedicou a sua vida aos cabelos e a proporcionar sorrisos a todos os que experimentam os seus produtos.





A Arminda é licenciada em Gestão de Empresas. Conte-nos o seu percurso profissional até à altura em que a Leocris foi criada.

Eu nasci numa aldeia do Norte. Entretanto vim para Lisboa, onde tive a facilidade de ter um tio que me ofereceu estadia na sua casa, para que pudesse seguir o curso de Gestão de Empresas na Universidade de Lisboa. A minha família é a melhor do mundo, mas tinha um problema: pouco dinheiro. O que me obrigava a estudar durante a noite e a trabalhar durante o dia na empresa desse meu tio.
Houve um dia em que estava a trabalhar e liga-me uma amiga que trabalhava numa empresa ao lado; disse-me que eu não ia acreditar no “borracho” que ia para lá trabalhar (risos). Fiquei à porta da empresa e vi-o sair. Reconheci-o de uns anúncios que fez de umas camisas Fórmula 1 e outros, mas ele nem sequer olhou para mim. Não sei se foi nesse dia ou no dia seguinte que pensei: “Vou ficar com ele para mim”. Ele não sabia que queria, mas claro que eu lhe mostrei que ele queria (risos). E assim foi, até hoje!
Quando acabei o meu curso mudei de emprego para a Sical, onde era diretora financeira. Entretanto casei com o José e tive o meu primeiro filho. Não sei se por bênção divina, mas passado uns meses de ter tido o primeiro já estava grávida do segundo. Algo que aconteceu durante a promoção do meu marido a diretor-geral da Revlon, pelo que decidi deixar de trabalhar e ficar a apoiar os três “rapazitos” – o meu marido e os meus dois filhos. E foi a partir daqui que comecei a ficar mais próxima do mercado do cabeleireiro. É um mercado muito fácil de se gostar, as pessoas são vaidosas, são alegres, gostam de festas, o meu marido fazia viagens com os cabeleireiros e eu também ia e, portanto, posso dizer que criei uma relação próxima com os melhores cabeleireiros do nosso país.
O meu marido era um gestor bastante próximo das pessoas, para dar uma ideia, algumas reuniões comerciais foram feitas em minha casa – eu ouvia, gostava e às vezes até mandava uns palpites (risos).


Como surgiu a criação da Leocris?

O nome da empresa foi pensado de acordo com os nomes dos meus filhos: Leonardo e Cristóvão (Leo + Cris = Leocris). A Leocris começou por ser uma empresa de mediação imobiliária que, por intermédio do meu marido, fiz e apresentei um estudo do mercado imobiliário português a uns espanhóis que, por sua vez, adoraram – o que acabou por resultar na criação de uma sociedade. Eu aconselhava e eles compravam! No entanto, o desfecho não foi o melhor. Pouco tempo depois rebentou uma crise por causa da guerra do Golfo, e a partir daí foi muito complicado – não havia bons negócios e eu perdi a confiança no mercado para lhes poder dizer quais os imóveis viáveis para investimento. Expus a situação e eles acabaram por me dar a mediadora, foram muito generosos! E foi aí que trouxe o nome Leocris para aquilo que é hoje. Não foi neste setor que comecei como empresária, mas foi onde encontrei o que realmente queria fazer!
Entretanto fiquei familiarizada com a Great Lengths numa viagem que fiz com o José à feira de Itália, a Cosmoprof, onde eu ia apenas para passear, para fazer companhia ao meu marido. Ficámos muito impressionados com todo o conceito das extensões, não queríamos acreditar no que estava perante os nossos olhos! Vi coisas que achava que não eram possíveis: pessoas de cabelo curto que de um momento para o outro tinham o cabelo enorme! Era novidade!





Quando voltámos a Portugal o meu marido entrou em contacto com o presidente da Great Lengths e marcaram logo reunião para o dia a seguir, em Itália. E foi assim que o meu marido começou a representar a marcar em Portugal. Foi um negócio fácil, o José já estava muito bem integrado no setor de cabeleireiro, pelo que não tiverem qualquer dúvida em entregar a Great Lengths a Portugal.
No início, o José teve algum receio dado à sua reputação no mercado, mas como defendia que era um produto tão especial e tão caro, tinha mesmo de o testar! Deu a oportunidade a três profissionais, ao hairsylist Paulo Vieira, à Noélia Reis do Salão Coquete e à Lourdes Lenz do Salão Dany, para serem os primeiros a trabalhar com as extensões. Foram a Roma para aprender e quando voltaram começaram logo a aplicar os conhecimentos que de lá trouxeram. E foi assim que começou.





O que a levou a enveredar pela área de negócio dos cabelos?

Dado ao posicionamento do José, sempre tive uma ligação com o mercado e os profissionais de cabeleireiro, estava muito à vontade nesse ambiente. Mas a minha entrada no negócio dos cabelos foi por mero acaso! Na altura em que o meu marido começou a representar a Great Lengths, surgiu-lhe um convite para ser embaixador de negócios de Portugal no Japão, durante seis meses. Disse-me: “Arminda, eu só tenho três clientes (Paulo Vieira, Noélia Reis e Lourdes Lenz) não te importas de ficar com a responsabilidade de fazer as compras em Itália e apoiar estes profissionais?”. E eu aceitei.
Ao fim de dois meses do meu marido estar no Japão, fui visitá-lo por duas semanas. Enquanto estávamos a fazer uma viagem de comboio disse-lhe que queria ficar com o negócio das extensões para mim, que não lho ia voltar a dar quando voltasse para Portugal (risos). Apaixonei-me completamente pelo conceito! Eu gosto do setor, dos profissionais, de tudo o que envolve cabeleireiros.







Quais as aprendizagens que retirou ao longo do seu percurso profissional? E quanto a obstáculos, houve algum?

Nunca fui alvo de um obstáculo muito grave, a não ser durante os períodos de maior crise. O meu negócio depende do negócio dos profissionais de cabeleireiro, portanto, tirando isso, nós próprios temos o dom de os criar – como quando tomei a decisão de ser seletiva nos profissionais a quem vendo as extensões da Great Lengths. Eu podia ser rica se vendesse as extensões a todos os profissionais que as querem comprar!
Há mulheres que poupam para que no dia do seu casamento possam usufruir desse serviço, e é por isso que eu não posso deixar que qualquer pessoa faça esse trabalho. Uma noiva que opta por gastar centenas de euros e que se depara com um resultado que não era o esperado... não posso correr esse risco!
E é horrível dizer que não aos profissionais! Mas não é por arrogância é apenas por saber que é o melhor para a marca e para o futuro do mercado. É um negócio pequeno, vai ser sempre, porque foi a minha opção. Não quero que seja vulgar, quero que seja especial.


Em que se distinguem as extensões que a Leocris comercializa aos profissionais de cabeleireiro das restantes disponíveis no mercado?

Em relação às extensões da Great Lengths o que nos distingue é a qualidade da matéria-prima. Não tenho a menor dúvida! Quem me dera que todas as pessoas interessadas no tema pudessem ver o processo: desde a origem, da maravilha que são as doações de cabelo, da seleção natural que é feita... desde que a mulher indiana oferece o cabelo ao templo até que nos aparece como uma extensão!





E em relação às cabeleiras disponíveis nas boutiques HairPlus?

Quanto às cabeleiras o que nos distingue é o serviço! Sou particularmente orgulhosa do nosso serviço, a minha equipa é a melhor do mundo nessa área.





A Leocris é uma empresa que revela um lado humano e solidário. Exemplo disso é a sua parceria com o Little Princess Trust, que fornece cabeleiras a crianças que passaram por tratamentos oncológicos ou outras situações de perda de cabelo. Fale-nos um pouco sobre esta parceria.

Sinto-me muito orgulhosa por representar o Little Princess Trust, como é óbvio, penso que qualquer pessoa se sentiria assim. Qualquer criança até aos 18 anos que, por motivos oncológicos, perdeu o cabelo e precise de uma cabeleira, nós estamos autorizados a oferecer. Fomos nomeados para representar esta instituição e de tudo faremos para continuar a apoiar estas crianças da melhor maneira possível.
As cabeleiras são fabricadas a partir de doações de cabelo natural de pessoas que desejem contribuir, desde que o cabelo se encontre em bom estado e com um comprimento específico, assim como, da recolha de extensões Great Lengths usadas, em todo o mundo. Por sua vez, a Leocris faz o mesmo em Portugal e serve ainda de intermediário para oferecer as ditas cabeleiras através das boutiques HairPlus.


Sente-se concretizada com tudo o que conquistou ou há ainda algum projeto que gostaria de desenvolver?

Tenho dois projetos inacabados.
Um deles é que as mulheres olhem para a cabeleira doutra maneira, sem estigmas. Por brincadeira, costumo dizer que a minha realização pessoal é que qualquer mulher portuguesa deveria ter, pelo menos, uma cabeleira em casa. A cabeleira coloca-nos instantaneamente no nosso melhor para qualquer situação que surja de repente! Pode ser guardada em casa como outro acessório qualquer, como aquela clutch de brilhantes que não usamos sempre, mas que está ali quando é precisa. A cabeleira é um acessório inestimável, mas que pela aproximação que tem ao cancro e à perda do cabelo por motivos de doença, ainda há muito estigma associado. As mulheres que usam as nossas cabeleiras passam o testemunho e dizem para visitar a nossa boutique, temos esse sistema de recomendação.
E o outro é conseguir envolver os profissionais de cabeleireiro no aconselhamento do uso de cabeleiras. É uma barreira que tenho de derrubar! Não se pode olhar para a cabeleira como uma peça que rouba trabalho do cabeleireiro, e eu receio que alguns possam pensar assim. Se surgisse um jantar de amigos à última da hora o cabeleireiro não ia estar aberto para me arranjar o cabelo, e é aqui que uma cabeleira resolvia a situação! Os cabeleireiros ainda pensam que quem tiver cabeleira não volta a procurar os seus serviços. E isso é mentira, isso não vai acontecer!
A título de curiosidade, a Jennifer Lopez tem um closet de cabeleiras! Como há homens e mulheres que têm closets com peças de roupa, sapatos, malas e acessórios, há quem tenha de cabeleiras! São costumes que os portugueses podiam copiar, mas é preciso passar a mensagem, e o meu objetivo de ter os cabeleireiros como mensageiros por excelência ainda está em processo.





Quais as perspetivas para o desenvolvimento e comercialização das extensões da Great Lengths?

Gostava que Portugal fosse um país mais justo para as pessoas que vivem e trabalham cá. A minha ambição é que as mulheres portuguesas tivessem um nível de rendimento mais alto, que lhes permitisse colocar extensões da Great Lengths e que pudessem comprar próteses e cabeleiras, no entanto, é impossível para a maior parte das mulheres. E isso enerva-me!


Que mensagem gostaria de deixar aos subscritores da Beautyland que, à semelhança da Arminda, gostariam de enveredar pelo caminho empresarial deste setor?

Fico sempre muito preocupada quando uma pessoa do setor dá o passo para ser empresário, pensando que quando abre o seu negócio o investimento acabou. Não, pelo contrário! O investimento tem de ser pensado muito para além da abertura do negócio – é preciso investir e depois ter o retorno!
Alguns deles não têm sucesso meramente pela parte financeira e isso entristece-me muito, porque quando é pela falta de conhecimento, vontade de trabalhar e sentido de responsabilidade, não fico muito triste.
Quando um negócio falha deixa muitas marcas na pessoa! E mesmo que se tenha de voltar a trabalhar para outra pessoa depois do seu salão não ter tido sucesso, não tem problema nenhum! A nossa capacidade de dar a volta às situações é muito maior do que aquilo que julgamos.


Considera que a ligação entre a Beautyland e os profissionais e empresas do setor é uma mais valia para a divulgação do seu trabalho?

O nosso setor beneficiou enormemente com a vossa empresa. Esta capacidade de ser abrangente e de fazer a ligação entre as várias áreas do setor é uma mais valia. É fundamental que o setor tenha este meio de comunicação que nos liga e nos permite divulgar o nosso trabalho, ao qual dedicamos a vida.
Por exemplo, se a divulgação das cabeleiras para as crianças que passam por tratamentos oncológicos chegar a um profissional, eu penso que não vai haver um profissional que ao ter conhecimento não diga: “Vou guardar isto, se alguma cliente minha necessitar ou souber de alguma criança que perdeu o cabelo, eu quero estar pronta a ajudar”. Vocês são muito valiosos para o setor e só vos desejo muito sucesso!


CURIOSIDADES







Por que mudanças de visuais já passou? Não tem receio em arriscar numa mudança de visual a nível capilar?

Fui muito pouco privilegiada no cabelo original, é encrespado, é fino é tudo de mau (risos). Conformei-me com isso e usava o cabelo apanhado.
Nunca fiz coisas muito extravagantes, mas agora tenho o cabelo que eu quiser ter – posso fazer um alisamento para contrariar o cabelo encrespado e aplicar extensões para ficar com um cabelo maravilhoso! E adoro usar cabeleira, são muito fáceis de usar e de cuidar, dão muito jeito para os dias de chuva!


Quais os passos que fazem parte da sua rotina de cuidados a ter com o cabelo?

Posso dizer que sou uma pessoa dependente do cabeleireiro! Sou dona de um e não sou capaz de fazer nada em casa (risos)! Tento usar bons produtos e boas práticas, mas tenho o cuidado de ir muitas vezes ao cabeleireiro. Gosto de ter o cabelo bonito como todas as mulheres.


 


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